Carioca de 24 anos se mudou para o país europeu para melhorar suas marcas; resultados já vieram na primeira competição que participou após a mudança
Ele fez história na primeira etapa da Copa do Mundo de Pentatlo Moderno, disputada no início de março, no Egito. E o resultado impressionante pode ter a ver com uma recente mudança na vida de William Muinhos. No torneio do país africano, o carioca de 24 anos se tornou o primeiro atleta revelado no PentaJovem, projeto de base da Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM), a participar de uma final de Copa do Mundo. A incrível marca veio poucas semanas depois de ele, que é líder do ranking nacional, passar a treinar na França.
“Já senti muita diferença em relação a treinamento, principalmente na esgrima, Evolui muito na primeira semana. O nível é completamente diferente. Por isso, escolhi a França; pelo nível dos atletas ser tão alto”, William já colhe os frutos da nova moradia.
Desde meados de fevereiro, o carioca treina na equipe do consagrado técnico de esgrima Daniel Levavasseur. A convite da CBPM, o francês já organizou várias clínicas da luta com a espada para pentatletas e técnicos brasileiros, no Brasil e no exterior. E foi em uma dessas, em 2013, que veio o primeiro convite de Daniel para William.
“Ele brincando, ou não, falava para eu vir treinar com ele na França, que eu iria melhorar muito. Na época, não tinha condições financeiras, por isso não vim logo. E também estava fazendo faculdade (William é formado em Administração) e não podia vir”, o pentatleta relembra.
Do convite até tomar a decisão que mudaria sua vida, se passaram quatro anos. Em março do ano passado, William se deu conta de que o melhor para ele era arrumar suas malas e alçar novos voos na Europa.
“Conversei com o meu técnico de esgrima (Guilherme Giffoni) e ele super me apoiou. Falei com meu técnico (o coordenador-técnico da CBPM no Rio, Fábio Corrêa) e, claro, com meus familiares”, relembra. “Logo depois, mandei mensagem para o Daniel perguntando se o convite ainda estava de pé. Ele disse ‘claro, com certeza’; e comecei a me programar para ir”.
Com os melhores da França (e do mundo)
Na França, William treina com grandes pentatletas não só do país, mas do mundo todo. A equipe de esgrima de Daniel Levavasseur é formada por atletas de vários países, como Argentina, Canadá, Estado Unidos, Senegal e Tunísia. Dentre os franceses, estão os pentatletas Elodie Clouvel, 29, que foi prata nos Jogos Olímpicos Rio 2016 e campeã da Copa do Mundo do Egito, em março; e Valentin Belaud, 25, campeão Mundial de 2016 e prata na Copa do Egito deste ano.
A França, aliás, foi a grande campeã da Copa do Mundo do Egito. No torneio da África, o país conquistou quatro medalhas ao todo: dois ouros (individuais feminino e masculino) e duas pratas (individual masculino e revezamento misto).
“Já enviei alguns vídeos do treino de esgrima para o técnico do Brasil (Giffoni) e ele me disse que eu já estou no ritmo europeu”, William comemora. “Minha afinidade com o Daniel é muito boa. E toda semana, tem uma equipe de um país diferente aqui com ele. Já treinei com atletas da África do Sul, China, Estônia, Austrália, Egito e Suíça”.
Raias compartilhadas com 20 pessoas
Não somente a esgrima, mas todo o treinamento que William faz na França é realizado no Centro Esportivo Brossolette. Ele usa a pista de atletismo do local para correr e a piscina para a natação. Graças à generosidade de Daniel, ele não paga nada para treinar por lá. O técnico percebeu a garra do brasileiro em mudar de país e abriu mão de receber qualquer valor dele para os treinamentos.
William conta que, na natação, divide as raias da piscina, que é pública, com cerca de 20 senhoras e senhores, que utilizam o espaço para se exercitarem também. O tiro a laser é aperfeiçoado em casa. A única prova que ainda não está em prática é o hipismo.
“Estou vendo de treinar o hipismo com a Elodie (Clouvel) e o Valentin (Belaud)”, projeta. “De vez em quando, uso a rua para correr também. E aí está uma das maiores dificuldades que tenho enfrentado: o frio de temperaturas negativas do inverno europeu”.
Contenção de despesas
Para se manter na França, William usa os recursos que recebe da Bolsa Atleta do Ministério do Esporte e o soldo que tem por fazer parte da Comissão de Desportos da Aeronáutica, como Terceiro Sargento da Força Aérea Brasileira (FAB). Ele conta que sua rotina não tem ido além de treino e casa.
“Não tenho como ficar comendo fora. Comecei finalmente a minha vida de marmiteiro. Nem no Brasil eu levava marmita para o clube. Preferia voltar em casa para almoçar”, relembra. “As coisas aqui são bem caras e como estou só com o meu salário de sargento e com a Bolsa Atleta, tenho que ser bem objetivo. É isso ou é isso. Não posso fugir muito do meu orçamento”.
Ele ainda consegue economizar com moradia, já que divide apartamento com um amigo do Brasil.
E o idioma? William já mandava bem no francês? Que nada! Desde que resolveu se mudar para a França, o pentatleta começou a fazer um curso intensivo de quatro meses, isso sem contar com horas de estudo em casa.
“Até que estou conseguindo conversar direito”, comemora.
No Brasil, ou na França, William já tem quase 10 anos de Pentatlo Moderno. Oriundo da natação, o carioca se interessou pela modalidade que reúne natação, esgrima, hipismo e laser-run (tiro a laser e corrida) por causa dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007. O ouro de Yane Marques na ocasião não somente chamou a atenção dele pela importante conquista para o país, como também por ela ser da mesma terra natal de seu avô: Afogados da Ingazeira, cidade pernambucana a 380 km da capital Recife.
Coincidências à parte, o pentatleta já se prepara para seu próximo desafio, na próxima semana, quando irá participar da terceira etapa da Copa do Mundo, na Hungria.
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