Estudo conta com pentatletas do centro de treinamento da CBPM no Rio de Janeiro
Imagine a reposição energética que um atleta de alto rendimento faz diariamente por causa das horas que encara entre treinamentos e competições? Agora multiplique isso por cinco. É o que acontece com pentatletas no Brasil e no mundo por causa de rotinas que muitas vezes chegam a oito horas diárias de dedicação nas cinco modalidades do esporte: natação, hipismo, esgrima e o evento combinado de tiro a laser e corrida. Pelo menos os pentatletas brasileiros contam com uma ajuda da ciência para encararem essa intensa rotina.
É que desde o início de 2011, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolve uma pesquisa inédita em parceria com a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM). O objeto de estudo dos pesquisadores é a suplementação nutricional e envolve atletas do centro de treinamento da CBPM na capital fluminense.
“O estudo em andamento tem como objetivo geral a implementação de um modelo inovador de gestão em nutrição esportiva e de suplementação visando a formação de atletas de alto rendimento”, resume a professora Dra. Anna Paola Pierucci, coordenadora do Laboratório de Desenvolvimento de Alimentos para Fins Especiais e Educacionais do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da universidade (DAFEE/UFRJ), e que está à frente do projeto.
O foco da pesquisa é o desenvolvimento de suplementos para atender necessidades específicas de pentatletas. Para isso, o estudo envolve várias etapas. Vai da investigação pessoal de cada competidor – levando em consideração sua maturidade sexual, seu nível de treinamento e aspectos socioculturais próprios -, passa pela realização de testes laboratoriais e chega até a formação de profissionais altamente qualificados para a orientação no consumo de suplementos alimentares.
A primeira fase da pesquisa, que envolveu a análise do estado nutricional dos atletas e a implementação de um programa de acompanhamento alimentar, realizada pela doutoranda nutricionista Letícia Azen, foi concluída. Paralelamente, a mestranda nutricionista Elisa Feital iniciou um programa de alimentação saudável na cantina do CT do Pentatlo Moderno carioca visando a promoção de hábitos alimentares saudáveis por meio da inclusão de cardápios de lanches balanceados e ajustados às necessidades nutricionais dos atletas durante o treinamento.
“Nós da Confederação resolvemos procurar a professora Anna depois de um curso sobre o assunto. O projeto já é importantíssimo para a gente, principalmente porque não temos no mundo um estudo sobre reposição energética de pentatletas”, destaca Fábio Corrêa, coordenador-técnico da Confederação no Rio.
Mirando Rio 2016
Como parte da pesquisa, no laboratório da UFRJ, a professora Anna, que sempre estudou temas relacionados ao esporte e ao desenvolvimento de alimentos, também orienta a doutoranda Camila Costa em um projeto de desenvolvimento de um suplemento vitamínico que possa ser absorvido mais facilmente pelo organismo dos pentatletas. A ideia é que a substância seja consumida em dose única, mas que sua absorção pelo organismo ocorra gradativamente, propiciando melhor efeito na recuperação após os desgastes físicos enfrentados pelos atletas em suas rotinas.
O efeito prático do produto vitamínico é a diminuição dos danos gerados ao organismo dos competidores por causa da alteração funcional de diversos tecidos e órgãos de cada um causada pelo estresse oxidativo pela formação de radicais livres depois de uma prática intensa de exercícios.
“Diferentemente dos produtos existentes no mercado, nós empregamos matérias-primas sustentáveis e de baixo custo. Além disso, adotamos um processo tecnológico, o micro e nanoencapsulamento, que otimiza a biodisponibilidade de nutrientes e sua funcionalidade, com redução de dose e aceleração da recuperação do atleta. Podemos dizer que o produto é pioneiro no país, desenvolvido por nutricionistas e testado em laboratório”, conta a professora Anna Paola.
Além do suplemento vitamínico, um alimento à base de proteínas da ervilha está em desenvolvimento pela mestranda Renata Baratta, com a colaboração da Dra. Cristiana Pedrosa. Este suplemento também terá aplicação na recuperação dos pentatletas durante cada etapa das competições.
De acordo com a pesquisadora, os resultados iniciais da pesquisa são animadores e estão sendo analisados junto com os treinadores e os pentatletas envolvidos. A expectativa é que depois dos estudos com o Pentatlo Moderno, o projeto possa ser expandido para competidores de outras modalidades. Os alvos principais são as vilas olímpicas, que são amplamente usadas na preparação de atletas de base de diferentes esportes, e atletas que vão brigar pelos primeiros lugares nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
De olho no doping
Outra importante preocupação do estudo coordenado pela pesquisadora Anna Pierucci trata da orientação aos pentatletas sobre o risco da ingestão de substâncias ilícitas a um esportista, que pode levá-los a uma positivação no exame antidoping. A professora se diz preocupada em informar e elucidar para seu grupo de estudo os riscos que ele corre ao fazer uso de tais substâncias.
Ela diz acreditar que muitos atletas recorrem a esses produtos quando não conseguem atingir suas metas somente com o treinamento e a alimentação saudáveis. Para a pesquisadora, os competidores acabam desacreditando que somente esses fatores poderiam gerar um efeito positivo em seus rendimentos.
“Esse momento normalmente é experimentado quando atletas iniciam sua vida competitiva, principalmente em nível internacional. As metas traçadas por eles nem sempre são factíveis, ou seja, muitas vezes, vislumbram determinadas posições que vão além de sua aptidão natural”, aponta a pesquisadora.
A professora acredita ainda que atletas recorrem a essas substancias por causa da falta de profissionais qualificados que os acompanhem nas áreas de treinamento e nutrição desportivos. Também por causa disso, o estudo com os pentatletas cariocas ganha uma importância ainda maior, já que em sua maioria, os testes estão sendo feitos com jovens e adolescentes em início de carreira.
A pesquisadora diz que está acompanhando de perto no CT do Pentatlo Moderno carioca a adoção de hábitos alimentares saudáveis com a orientação nutricional individualizada, inclusive sobre o consumo de suplementos nutricionais. A abordagem inicial por lá é para que sejam verificados os hábitos alimentares inadequados dos pentatletas, com o ajuste de alguns nutrientes que apresentam ingestão aquém do necessário para a promoção do adequado crescimento e desenvolvimento de cada um.
“Desta forma, procuramos demonstrar que a alimentação é fundamental para o alto rendimento e para a promoção da saúde. É muito comum o consumo de suplementos por atletas sem uma orientação profissional qualificada. Verificamos no mundo esportivo um alto índice de consumo desses suplementos por indicação de amigos, propagandas e treinadores, que não têm formação ou habilitação para este tipo de orientação”, ela destaca.
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