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Exemplo de persistência e dedicação ao esporte

06/09/2011 13h25
CBPM

 
Com um terço de sua vida dedicada ao Pentatlo Moderno, Wagner Romão decidiu quando seria seu momento como atleta. Nesse embalo, garantiu-se no Pan de Guadalajara

“Eu era o segundo colocado no ranking brasileiro e falei para todo mundo que não estava com pressa”. Foi assim que o pentatleta Capitão do Exército Wagner Romão decidiu em 2001 que sua base militar por três anos seria em um quartel de Imperatriz, cidade maranhense localizada na divisa do estado nordestino com Tocantins. Recém-formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, na Região Sul-Fluminense, deixou para trás o convívio com a família, o Rio de Janeiro e o Pentatlo Moderno.

Na bagagem do sergipano, então com 22 anos, estavam três anos como pentatleta e uma escolha feita com convicção: “Minha única vontade era ir para a selva. Estava diante do mapa do Brasil e queria servir em um quartel na Amazônia”, decidiu com firmeza. Na época, só pensava em pôr em prática o que tinha estudado por cinco anos na AMAN. Tinha a certeza de que estava apenas adiando seu grande momento no esporte.

Hoje, 10 anos depois, Romão é um dos principais pentatletas brasileiros e tem seu reencontro com o segundo lugar no ranking brasileiro. Em todo o mundo, é o 78º melhor atleta do Pentatlo Moderno. Completando 33 anos nesta semana, curte o bom momento na carreira esportiva de olho no México. Daqui a pouco mais de um mês no país da América do Norte, vai representar o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. Estará bem acompanhado de Luis Magno, Priscila Oliveira e Yane Marques.

Mesmo sendo veterano da competição continental, já que competiu no Pan do Rio, em 2007, vai para a cidade mexicana como se estivesse estreando no torneio. É que não guarda boas lembranças da edição carioca dos Jogos.

“Nos dez dias finais de preparação para o Pan do Rio, sofri um violento acidente caindo do cavalo. Cheguei a ser levado de ambulância para o hospital e estava bastante preocupado com minha coluna. Felizmente, após vários exames, não foi constatado nada grave”, conta o pentatleta.

Imediatamente passou por uma série de sessões de fisioterapia e chegou a se medicar para aliviar as dores na região. A pior imagem do acidente que guarda na memória é da cadeira de rodas que o acompanhou por alguns dias pela Vila Pan-Americana. O sonho de chegar a um Pan estava sendo lamentavelmente nada prazeroso.

“Estar ali no Pan era o meu objetivo traçado desde 2004. Era algo que eu alimentava a cada dia. Consegui competir, mas meu condicionamento físico estava muito prejudicado, inclusive com algumas limitações de movimento”, revela.

O 11º lugar na competição foi a constatação de que precisaria viver uma nova experiência de um Pan-Americano. Em Guadalajara, no próximo mês, vai ter a chance de se apresentar em plena forma. A empolgação é vista de longe no rosto do pentatleta.

“Quando você vai para um torneio desses, você é inserido na seleção brasileira de todos os esportes. Sabe que na hora do almoço vai sentar na mesa com atletas do vôlei, do triatlo, da natação. Você vê ali aqueles caras que acompanhou durante toda sua vida numa posição de igual com você”, alegra-se.

Antes do Pan, Romão encara uma das competições mais importantes do calendário anual do Pentatlo Moderno: o Campeonato Mundial Sênior. A partir desta quinta-feira, dia 8, estará ao lado de outros 5 brasileiros em Moscou (os três pentatletas que lhe farão companhia em Guadalajara e os jovens Felipe Nascimento e William Muinhos) e mais outros 179 atletas de 34 países.

“Nossa expectativa é modesta. Sabemos que ainda estamos um pouco abaixo do nível europeu na modalidade. O trabalho tem sido feito da melhor maneira, mas um Mundial é sempre a competição mais dura do ano. Acho que qualquer brasileiro que passar para a final já será um grande feito", acredita.

Além da hegemonia na competição e de bons pontos para o ranking mundial, em jogo na Rússia estão preciosas seis vagas (três no masculino e outras três no feminino) para os Jogos Olímpicos de Londres no ano que vem. Caso não consiga se garantir na Ásia, no Pan de Guadalajara o atleta terá mais uma chance de carimbar seu passaporte para a Inglaterra em 2012. No México, oito atletas (quatro por gênero) vão ter esse privilégio.

Depois dessas duas competições, restarão apenas 10 das 36 vagas (em cada sexo) destinadas ao Pentatlo Moderno para a próxima Olimpíada. Como todo atleta que trabalha com metas, chegar lá é uma motivação a mais.

“O que mais me motiva tanto no Pan quanto no Mundial são as vagas para as Olimpíadas. O que todo atleta sonha, e não sou diferente, é isso. Estou vendo a oportunidade muito próxima e estarei realizado se conseguir”, vislumbra.

Filho de peixe…

O primeiro contato que Wagner Romão teve com o esporte foi aos seis anos de idade. Na época, o pai resolveu lhe dar aulas de natação em um clube na cidade onde morava, a pequena Cristalina, no extremo Leste de Goiás. Os ensinamentos eram de alguém que entendia do assunto, já que Walter Romão era triatleta.

O militar e ex-atleta resolveu colocar os três filhos para nadar quase criando uma escolinha de natação. Abriu os treinos para quem quisesse participar e ganhou outros alunos.

“Meu pai botou a criançada para nadar. Caíamos na piscina sempre depois das 18h, já que durante o dia ele trabalhava. Aquela água gelada era um pouco difícil de suportar. Em dias frios, quase ninguém aparecia, mas eu e os meus irmãos não tínhamos escolha”, relembra.

E Walter Romão fez escola. Para muito além daquele espaço que usava no pequeno clube goiano. Hoje, Caio, de 10 anos, e João Pedro, com oito, seguem os passos do pai pentatleta e do avô triatleta. Os dois meninos, fruto do casamento de 10 anos do sergipano com a veterinária Raquel Peralva, já praticam natação e esgrima. É a nova geração do esporte olímpico brasileiro vindo aí!

“Eles estão vivendo a mesma coisa que eu vivi e já nasceram nesse ambiente esportivo. Sempre levei os dois e a Raquel para acompanhar as minhas provas, tanto no Pentatlo quanto em outras que me aventuro na natação e em corridas”, explica.

A influência também chegou à esposa, que desde o início do casamento começou a correr, participando esporadicamente de algumas competições menores. É o esporte cercando todos os ambientes de convivência de Wagner Romão.

Das piscinas que começou a encarar com seis anos de idade, o pentatleta passou ainda pelo voleibol. Aos 10 anos e morando em Brasília, no Distrito Federal, dava os primeiros saques e cortadas de sua vida. Chegou a entrar para a equipe do Colégio Militar, onde estudava na capital federal.

Quando veio morar no Rio de Janeiro, já com 14, fez parte do time infanto-juvenil de vôlei do Botafogo. Quatro anos depois (1996), ingressava na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas, no interior de São Paulo. Lá, além do voleibol, começou a praticar triatlo. Era a primeira experiência de se dedicar a um esporte com mais de uma modalidade simultaneamente. Não ia demorar muito para se interessar por aquele que junta cinco.

E eles foram apresentados na AMAN, ainda em seu primeiro ano de curso. Era 1997 quando um amigo da Academia lhe falou sobre o esporte formado pela esgrima, natação, hipismo, tiro e corrida. Daniel Santos sabia o que estava dizendo. Era o principal pentatleta masculino do Brasil no momento e hoje é o mais experiente dentre todos eles.

“O Daniel já fazia o Pentatlo Moderno em Porto Alegre, onde nasceu. Até então, eu só tinha praticado a natação e a corrida, mas gostei do convite. No primeiro ano, encarava os treinos mais como uma iniciação na modalidade, para conhecer o esporte”, relata.

Paralelamente, Romão era um dos principais atletas do Pentatlo Militar. Tirava de letra as cinco provas pensadas para atletas do Exército em uma rotina na corporação: tiro, natação utilitária com obstáculos, corta-mato ou corrida através do campo (cross), lançamento de granadas e corrida numa pista de obstáculos. Pouco tempo depois, a brincadeira virou algo profissional e da versão Militar da modalidade passou a se dedicar exclusivamente ao Moderno.

Em 1999, estava pela primeira vez em uma competição internacional: o Sul-Americano, no Chile. A estreia foi com o pé direito. Ficou em quarto lugar-geral, sendo o melhor brasileiro no torneio. Conquistou ainda a medalha de ouro no revezamento masculino juntamente com Eduardo Carvalho. Tava aí a prova de que o Pentatlo Moderno seria mais do que diversão.

“Ainda não visualizava ser atleta de ponta. Apenas gostava de treinar. Naquela época, o Pentatlo Moderno era algo meio amador no país. Para você ter uma ideia, não existia nem Confederação. Essa organização que tem hoje passava longe. A quantidade de pentatletas em um brasileiro não chegava a 10”, enumera.

Atleta por completo

Assim que voltou ao Rio de Janeiro, do Maranhão, em 2004, Wagner Romão decidiu retornar também ao esporte. Foi por isso que decidiu estudar na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), localizada na Urca, na Zona Sul da capital fluminense. Após um ano intenso de estudos acelerados, estava graduado e com diploma.

Outro possível afastamento do esporte estava a caminho. Só não chegou a se concretizar por causa de sua determinação e foco na vida de atleta. Foi remanejado para um quartel em Uberlândia, no interior de Minas Gerais. Para não perder a forma e sair do ritmo, nos dois anos que passaria na cidade mineira, deu um jeito de continuar treinando as cinco modalidades do Pentatlo Moderno.

“Chegando lá, tratei logo de entrar para uma equipe de natação local que tinha ótimos atletas. A corrida eu conseguia trabalhar na pista de Atletismo da minha base. Para o hipismo, entrei numa turma particular em um haras da região. A proprietária da área havia contratado um técnico para dar aulas para seus filhos. Eu combinei de pagá-la para também fazer parte da turma e montar alguns cavalos dela”, explica.

Mas a maior prova de amor ao esporte ainda estava por vir. Em dois espaços de sua residência mineira, construiu um estande de tiro e projetou uma sala de esgrima, ambos com medidas oficiais exigidas internacionalmente. Era o sergipano comprovando que o título de superatleta era pouco para o seu currículo.

“Fui correndo atrás das modalidades. Não queria fazer como deixei acontecer no Maranhão, onde fiquei sem um treinamento constante”, esperava.

De volta ao Rio, no ano do Pan carioca, seguiu sua carreira esportiva firme e forte, não parando em nenhum outro momento. Poucos anos depois, já teria em sua bagagem um título sul-americano (2007), dois vices sul-americanos (2005 e 2006) e três brasileiros (2006, 2008 e 2010).

A mais recente aquisição foi a prata na disputa masculina por equipes conquistada nos Jogos Mundiais Militares de 2011, em julho, no Rio de Janeiro. A medalha ‘em casa’ contribuiu para que o Pentatlo Moderno brasileiro tivesse a sua melhor participação em um Mundial Militar.

“Esse Mundial Militar foi a melhor prova da minha vida. Tanto em relação ao desempenho, quanto pela alegria de estar competindo ‘em casa’ e com a equipe que foi formada. Todos da comissão técnica eram muito unidos e fizeram com que a preparação fosse muito bacana. Ficamos dois anos treinando com uma equipe mestre de multiprofissionais, o que coroou com o vice-campeonato”, enfatiza.

Essa importante conquista veio após um 2010 de muitas dificuldades. No ano passado, Romão teve três lesões que comprometeram suas performances. Enfrentou um estiramento da panturrilha, uma fratura no ombro e, por fim, uma queda de moto que machucou sua perna.

Mas como está acostumado nesses 13 anos de Pentatlo Moderno, sabe como ninguém dar a volta por cima e se superar. Se 2010 foi um ano com muitas limitações, caminha por 2011 em uma ótima fase, já mirando 2012 com grande determinação.

“Meu condicionamento físico está perfeito e estou treinando muito bem. Os resultados que tenho conseguido na natação e no combinado são o que mais me deixam orgulhoso recentemente”, destaca.


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