ADALBERTO LEISTER FILHO
da Folha de S.Paulo
Há dez anos, certo presidente de confederação se orgulhava de dizer que os arquivos da entidade cabiam no porta-malas de seu carro. Sete anos após a aprovação da Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias ao esporte, a realidade é diversa.
"O dinheiro das loterias garante o básico para o funcionamento das entidades. E abre espaço para que possamos ir atrás de verbas para outras iniciativas", afirma Roberto Gesta de Melo, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo.
Municiado pela Lei Piva, o Comitê Olímpico Brasileiro traça metas e enumera sugestões para as confederações. Entre os conselhos estão a contratação de técnicos estrangeiros, a manutenção de centros de treinamento, o pagamento de ajuda de custo a atletas e a formação de seleções olímpicas permanentes.
Em 2000, último ano antes da aprovação da Lei Piva, apenas 19% das confederações olímpicas tinham estrangeiros em suas comissões técnicas. Na preparação para Pequim, segundo levantamento da Folha, o número saltou para 65%.
Na pesquisa, foram computadas apenas entidades de esportes presentes na Olimpíada de Pequim que são beneficiadas pela Lei Piva e sujeitas, portanto, às sugestões do COB –o futebol não entra nessa conta.
Seguindo as diretivas do comitê, as entidades contrataram treinadores ou consultores de países como Argentina, Austrália, Coréia do Sul, China, Cuba, Espanha, França, Guiné Bissau, Hungria, Itália, Indonésia, Romênia, Rússia e Ucrânia.
Mas, afora a ginástica, nenhum esporte conseguiu, via solução estrangeira, um crescimento técnico suficiente para alçá-lo a candidato a medalha já na Olimpíada de Pequim.
No basquete, virou até uma panacéia. A seleção masculina, pela primeira vez, será dirigida por um estrangeiro, o espanhol Moncho Monsalve. "O Brasil se classificará para os Jogos com as seleções feminina e masculina e irá para Pequim com o objetivo único de buscar medalhas", afirma Gerasime Bozikis, o Grego, presidente da CBB.
No masculino, o país não vai à Olimpíada desde Atlanta-96 e não sobe ao pódio há 44 anos. Tenta a vaga, difícil, em julho.
Para alguns dirigentes, porém, a invasão estrangeira não garante, por si só, melhorias.
"É necessário que esses profissionais passem seu conhecimento para as pessoas daqui", declara João Tomasini, presidente da confederação de canoagem, que quer instituir uma escola de técnicos neste ano.
Espaço privilegiado para que modalidades garantam boa condição de treinamento, os CTs, próprios ou fruto de parcerias, tornaram-se mais comuns. Há oito anos, antes de Sydney, só 12% das confederações tinham centros para preparar competidores. Para Pequim, 58% das entidades têm local exclusivo para treinos.
"Antes de termos nosso CT [em Campinas], os jogadores atuavam em quadras poliesportivas nos clubes. Aí, dependiam do horário dos outros esportes. Aqui dá para praticar de manhã, à tarde e à noite", diz Celso Wolf Jr., presidente da confederação de badminton, esporte que amealhou sua primeira medalha pan-americana nos Jogos do Rio, em 2007.
Com mais dinheiro em caixa, 77% das entidades pagam ajuda de custo a atletas, sejam eles adultos ou de categorias de base. Boa parte dos que não recebem já é contemplada pelo Bolsa-Atleta, programa do Ministério do Esporte que beneficia 1.031 esportistas em 2008.
Mas, na maioria dos casos, a ajuda de custo é baixa. "Quem não tem Bolsa-Atleta tem ajuda, mas é simbólica", diz Hélio Cardoso, presidente da confederação de pentatlo moderno.
No taekwondo, os valores desembolsados pela confederação e os atrasos no pagamento são motivo de tensões periódicas entre atletas e dirigentes.
Baixos ou não, os salários ajudaram a formação de seleções permanentes, estratégia à cubana para garantir entrosamento nas provas em que o entrosamento é fundamental, como nos casos do nado sincronizado e da ginástica rítmica.
Atualmente, 77% das entidades têm algum tipo de equipe permanente, seja adulta ou, em casos específicos, de base. Outros esportes, como ginástica artística e tiro esportivo, porém, privilegiaram a elite. Em alguns casos, foi a saída encontrada para conseguir a tão sonhada massificação.
"No início, ficamos indecisas. Mas preferimos investir em atletas para resultados internacionais. Dá mais visibilidade e torna a modalidade mais conhecida", aponta Eliane Martins, supervisora de seleções da confederação de ginástica.
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