» Licitações » Ouvidoria Siga nossas redes sociais

Notícias

William Muinhos: Pentatleta no esporte e na vida

15/02/2012 12h08
CBPM

Carioca encarou muitos desafios em sua trajetória dentro e fora do Pentatlo Moderno. Aos 18 anos de idade, com apenas três deles na modalidade, já entrou para a história do esporte nacional

Mundialmente, o pentatleta é visto como um superatleta. Também não é por menos, encarar em um único dia disputas de esgrima, natação, hipismo e o evento combinado de tiro e corrida não é para qualquer um. O Brasil tem feito a lição de casa na missão de formar bons desses campeões. E um deles tem apenas 18 anos de idade: William Muinhos.

Descoberto no PentaJovem, projeto que a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM) mantém há quase três anos no Rio e em Recife para a formação de novos nomes na modalidade, o carioca se tornou uma estrela do esporte nacional. Estrela que já brilhou nos quatro cantos do mundo.

Um desses grandes momentos de iluminação aconteceu há quase três meses, quando entrou para a história da modalidade. Era o Campeonato Mundial Júnior, na Argentina. Lá, no dia 20 de novembro de 2011, William Muinhos se tornou o primeiro brasileiro a estar em uma final masculina de um Mundial de Pentatlo Moderno.

Para os que acompanham o pentatleta, foi a comprovação de que o feito histórico seria dele. Para o carioca, foi mais uma das grandes emoções vividas em sua jovem idade e no pouco tempo na modalidade.

“Um dia antes da prova, no hotel, vimos os últimos resultados de meus adversários e achamos que eu não iria conseguir um bom desempenho e teria poucas chances de classificação para a final. Mas tudo ocorreu muito bem e fico honrado de mostrar para o mundo que o Pentatlo Moderno brasileiro está crescendo e chegando cada vez mais para brigar de igual com todo mundo”, conta William.

Em sua trajetória no esporte, o carioca encarou muito mais do que cinco modalidades. Órfão de mãe desde os três anos de idade, por causa de um acidente de carro, mora atualmente com os avós paternos. Depois da perda da mãe precocemente, teve um novo desafio pela frente, aos quatro anos de idade, em seu primeiro contato com o esporte.

Depois que sua irmã, Vanessa Muinhos, dois anos mais velha, começou a fazer ginástica olímpica, o pai, o guarda municipal Silvio Ferreira, hoje com 43 anos, insistiu para que ele também começasse alguma atividade esportiva. Pôde escolher e optou pela natação.

Já começava ali a receber as primeiras lições de uma das modalidades do Pentatlo Moderno. Nadava no Centro Esportivo Miécimo da Silva, em Campo Grande, bairro em que reside até hoje, na Zona Oeste da capital fluminense. As lembranças que tem dessa experiência inicial no esporte não são muito satisfatórias, apesar da importante insistência de sua madrasta, a técnica em enfermagem, Ana Maria Silva, hoje com 55 anos.

“Chorava todos os dias. Minha madrasta era quem me levava e me dava doces e CDs para eu continuar. Enquanto eu a via na beira da piscina estava tudo bem, mas quando ela não estava por ali, eu começava a chorar. Até hoje não sei o porquê”, lembra o pentatleta.

Conseguiu ali, dentro d’água, sua primeira vitória. O adversário: a instabilidade emocional. Deu a volta por cima da experiência que começou de forma não amigável, virando o jogo. Não só espantou o medo, como permaneceu na natação por mais de 10 anos.

Sua irmã não seguiu carreira no esporte. Ele, de braçada a braçada, chegou a uma incrível temporada de 2011 no Pentatlo Moderno. O resultado histórico no Mundial Júnior da Argentina foi conseqüência de um ano intenso, com muitas competições dentro e fora do Brasil. Participou desde a primeira Etapa da Copa do Mundo, em fevereiro, nos Estados Unidos, até os três mundiais da modalidade, dentre eles, o Sênior, em setembro, na Rússia.

Os bons resultados foram vistos nas várias categorias que disputou. No Sul-Americano, em junho, no Rio de Janeiro, foi ouro Jovem A, prata Júnior e ficou em quarto lugar na disputa Sênior, onde ainda competia por uma vaga nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara.

Não garantiu sua ida para o torneio no México, mas um mês depois, em julho, esteve nas arenas do Pan, participando do Campeonato Norceca (Américas do Norte e Central), evento usado como o pré-Pan do Pentatlo Moderno. Não foi lá só para testar as instalações de Guadalajara.

O carioca fez bonito acima da linha do equador. E muito bonito, diga-se de passagem. Ao lado de Danilo Fagundes, conquistou a medalha de prata no revezamento masculino da competição. O segundo lugar no pódio funcionou como ótimo aliado para esquecer o nervosismo que o acompanhou na disputa individual. Na vida e no esporte, nada como um dia após o outro.

“Foi uma emoção inenarrável, onde passaram em nossas cabeças todos os treinamentos e dificuldades que tivemos. Ali no pódio, foram recarregadas todas as nossas energias para prosseguir. Foi uma conquista que nos motivou a treinar mais e mais”, enfatiza.

A prata no pré-Pan de Guadalajara e as medalhas conquistadas no Sul-Americano logo alavancaram o pentatleta no ranking mundial da União Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM). O avanço foi tamanho que o carioca foi até o topo da categoria Jovem A.

E assim chegou para participar do Mundial Jovem A, em agosto, em Istambul. Na Turquia, sentiu a pressão do favoritismo, mas isso não foi suficiente para tirar seu brilho. No evento combinado de tiro e corrida da disputa individual do Campeonato, o pentatleta ‘voou baixo’, fazendo o segundo melhor tempo entre 80 adversários. Conseguiu um resultado final melhor do que o planejado: o 14º lugar na classificação geral.

“Foi gratificante ser por alguns meses o melhor do mundo Jovem A e durante o ano ficar entre os três primeiros do ranking. No Mundial, todos me olhavam com outra cara, já se perguntando: ‘Quem é esse William Muinhos que está no topo?’. Consegui ficar entre os vinte primeiros. Foi a competição mais emocionante de todo o ano”, relata.

Como se forma uma estrela

Quando se dedicava apenas à natação, William Muinhos chegou a participar de disputas representando o Clube Miécimo da Silva. Eram competições que não passavam do nível estadual pela pouca idade. Com 10 anos, entrou para a equipe mais experiente da escolinha. Ali se mostrava ser um garoto prodígio, já que naquele time, nenhum atleta, com exceção dele, tinha idade menor do que 13 anos.

De lá, se federou pelo Vasco da Gama para poder participar de torneios nacionais. Com um país de tradição de formar ótimos nadadores, conseguir bons resultados nessas competições não foi uma tarefa fácil.

“O que eu mais me recordo dessa época foram as amizades. Na natação não me destaquei nem um terço do que estou me destacando no Pentatlo Moderno. O bom era competir e o convívio, até porque tudo era muito disputado”, ressalta.

Em 2007, uma feliz coincidência iria mudar de vez sua vida. Ela aconteceu nos Jogos Pan-Americanos daquele ano, disputados no Rio de Janeiro. Na ocasião, Yane Marques, nossa principal pentatleta, subiu no lugar mais alto do pódio para receber a medalha de ouro na disputa feminina do Pentatlo Moderno.

William não viu a conquista da pernambucana e nem soube quando seria a disputa da modalidade na competição. O alvoroço na televisão por causa daquela medalha inédita para o país chegou até ele. Saiu da boca do avô, Ozías Vieira, hoje com 70 anos, sua primeira referência de Pentatlo Moderno.

“Guria lá da minha terra”, dizia Seu Ozías, enquanto via a receptividade de Afogados da Ingazeira, a cerca de 380 km de Recife, à sua filha pródiga. Na telinha, avô e neto viam uma bela carreata pelas ruas do município do sertão pernambucano dedicada à afogadense Yane Marques.

Pouco tempo depois, William tinha o primeiro contato com o Pentatlo Moderno. Depois do ‘start’ dado pelo avô, bastou o amigo e também pentatleta Danilo Fagundes falar sobre a modalidade para ele se entusiasmar.

“O Danilo também praticava Triatlo e treinava natação com a gente. Ele me chamou, explicando como era a competição e do que mais gostava”, recapitula William.

Seu pai não gostou muito da ideia. Com as recentes mudanças do atleta do Miécimo para o Vasco e uma possível ida para o Fluminense, ele acreditou que seria mais uma investida sem ir muito longe. Apesar de não ver com bons olhos, Seu Silvio não fez objeções.

O caminho ficou livre para Danilo levar o aspirante à pentatleta até o Centro Nacional de Pentatlo Moderno (CNPM), em Deodoro na Zona Oeste da cidade. No local, a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM) mantém seu centro de treinamento na capital fluminense.

Por lá, eles conversaram com Fábio Corrêa, atual coordenador-técnico do PentaJovem-RJ.

“O Fábio perguntou qual era o meu tempo na natação e eu fiquei com medo de falar que era 2’28’’. Reduzi um pouco, dizendo que nadava os 200 metros estilo livre exigidos na modalidade em 2’23’’, acreditando que a diferença iria ser decisiva”, revela.

Não foi e em uma de suas primeiras competições foi pego pela brincadeira. Ao nadar em 2’25’’, Fábio teria reclamado com ele que seu tempo havia aumentado, quando na verdade havia era diminuído, levando em conta os reais 2’28’’ de antes.

Sempre categoria acima

Assim que entrou para a delegação carioca do Pentatlo Moderno, William Muinhos precisou ter suas primeiras noções de esgrima, tiro e hipismo. Para a natação e a corrida, bastava o crescente aperfeiçoamento, já que possuía alguma referência.

Não era só William o iniciante na turma de Deodoro. Ele e os demais atletas de lá faziam parte do que viria as e tornar o projeto PentaJovem. Os investimentos nas categorias de base do Pentatlo Moderno estavam começando, pela primeira vez no país, com aquela garotada.

O carioca não teve problemas em se familiarizar com o tiro esportivo. Para ele, a equitação foi a mais impactante. Principalmente com o Campeonato Brasileiro daquele ano à vista, que fez com que os treinamentos ficassem intensos.

“Nunca tinha montado a cavalo, somente naqueles passeios, que não tem o trote. Levei vários tombos e chegava em casa deixando meus avós preocupados. Teve uma queda que eu fiquei três dias sem treinar por causa da dor”, revela.

Na esgrima, a familiarização foi mais tranqüila. Ele os demais atletas começaram com os fundamentos de base, sem pegar na espada. Nos três primeiros meses, a turma se dedicou aos jogos educativos. Quando precisaram lutar de verdade, com a roupa oficial, já estavam acostumados com a ideia.

Então com 15 anos, se William competisse somente pela categoria correspondente a sua idade, a Jovem B, não precisaria passar pelo hipismo, nem pela esgrima. No entanto, como desde então, começou a disputar pelas categorias mais elevadas, precisou dominar as cinco modalidades.

E já no início de sua vida de pentatleta tinha uma grande meta a cumprir: se classificar para os Primeiros Jogos Olímpicos da Juventude, disputado em agosto de 2010, em Cingapura. Tinha pouco tempo para passar pelas seletivas e garantir uma das 24 vagas para todo o mundo. Pelo menos já se enquadrava em um dos requisitos básicos da competição: ter de 14 a 18 anos.

Foi para sua primeira competição internacional, o Sul-Americano de 2009, em Buenos Aires, com a possibilidade de se garantir em Cingapura. Mas não ficou tenso com a chance de classificação já em uma de suas estreias. Mesmo não carimbando seu passaporte naquele momento, já tinha apostado suas fichas para o Campeonato Mundial Jovem A do ano seguinte, em junho de 2010, na Suécia.

“No Sul-Americano eu vi que estava no início de minha carreira no Pentatlo Moderno e disse para mim mesmo que iria me dedicar para o Mundial. Assim que chegamos na Suécia, vimos a bandeira de Cingapura ao lado da brasileira e brincaram comigo falando que aquilo era um sinal para mim”, se recorda.

O Mundial iria classificar 10 atletas para os Jogos. De acordo com o regulamento, cada país só poderia ter um atleta por gênero. Por isso, o fato de ter ficado em 52º na competição, não significava que ele deveria perder as esperanças. A expectativa foi grande até porque não divulgaram o resultado da seletiva no torneio.

De volta ao Brasil, William não tinha outra coisa na cabeça. O jovem atleta checava a todo o momento seu e-mail, acessava a toda hora o site da UIPM e ligava constantemente para a Confederação atrás de notícias. Quase um mês depois, quando estava para fazer o check-in em um hotel de Belo Horizonte, onde iria participar de uma competição de Esgrima, teve a resposta.

“Quando chegamos na recepção, o telefone tocou e falaram que era para mim. Nem estava pensando mais nisso. Peguei e ouvi: ‘você vai para Cingapura’. Na hora, comecei a gritar no hotel”, se anima com a lembrança.

Com a eliminação de atletas de países já classificados, pulou da 52ª posição para a nona na lista da seletiva, o suficiente para garantir sua ida aos Jogos. O carioca define a experiência de ter participado do torneio no país asiático como surreal.

“Foi completamente diferente de qualquer competição que eu já participei. A estrutura, toda a mídia em volta… fecharam uma universidade pra gente e estar ali com atletas de vários países foi bem bacana”, revive.

A emoção foi tanta no torneio, que quis deixar aquele momento registrado para sempre. Decidiu fazer uma tatuagem para se lembrar. Hoje, está lá, nas suas costas, as cinco modalidades que compõem o Pentatlo Moderno. Desenhadas uma a uma, em volta da bandeira brasileira em formato do mapa do país.

Mais do que ter na memória a participação dos Jogos Olímpicos da Juventude, a tatuagem celebra seu grande amor à vida de pentatleta.

“Fiz quando eu voltei do torneio. Pensei nos aros olímpicos, depois no mascote da competição até que meu pai me convenceu a fazer algo que tivesse relação direta com o Pentatlo Moderno”, relembra.

Uma batalha de pentatleta

Se nos treinamentos do Pentatlo Moderno, William Muinhos tem que se aperfeiçoar em cinco modalidades, fora das arenas, a batalha não é menor.

O jovem até os oito anos de idade vivia com o pai e a madrasta. Por problemas de saúde do avô, aposentado com 70 anos hoje, foi morar com ele e sua avó, a dona de casa Sueli Vieira, com 69 anos.

Passou toda sua vida em Campo Grande e foi lá que completou sua educação básica, toda ela em escola pública. Cursou o Ensino Fundamental na Escola municipal Professor Gilberto Bento e Silva e o Médio no Colégio Estadual Professora Jeannette de Souza Coelho Mannarino.

Passaram apenas seis meses desde a formatura para entrar para o curso de nutrição de uma universidade particular em Realengo, também na Zona Oeste da capital fluminense. Foi o tempo necessário para decidir aceitar o conselho de Celso Sasaqui, vice-presidente da Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM).

“Celso falou para eu estudar, dizendo que não queria que eu me dedicasse somente aos treinamentos do Pentatlo Moderno. Ele me incentivou a procurar algum curso superior. Escolhi nutrição porque o óbvio de fazer Educação Física não encheu meus olhos. Como nutricionista, futuramente consigo continuar no meio esportivo, trabalhando juntamente com algum atleta”, visualiza.

Além do Pentatlo Moderno e da faculdade de nutrição, William Muinhos ainda investe em dominar um idioma estrangeiro, o inglês. Com tanta responsabilidade, a agenda do jovem está totalmente preenchida.

De segunda à sexta, das14h às 18h, e no sábado, de 6h às 12h, se dedica totalmente aos treinamentos em Deodoro. O curso superior, neste semestre, lhe toma todas as manhãs de terças, quintas e sextas. Já o inglês é tarefa para as noites de segundas e quartas. Para alcançar todos esses trajetos, precisa se locomover com ônibus e trem.

Para seguir toda essa jornada, o carioca conta com a ajuda do Bolsa-Atleta, concedida pelo Ministério do Esporte. Incluído na categoria internacional desde o ano passado, diz que o benefício é primordial para sua vida de esportista. Com ele, arca despesas de material, transporte e alimentação.

Desde que faz parte do programa, conseguiu comprar uma espada de esgrima, arma de chumbinho, tênis de corrida, sapatilhas, bota, bermuda de natação e muitos outros materiais necessários para treinar e competir.

Todo esse aparato vai ajudar William Muinhos a continuar se aperfeiçoando. Até porque as metas para os próximos anos não são nada fáceis. Somente em 2012, o pentatleta pretende estar em vários circuitos. Dentre eles, a Copa do Mundo do Rio de Janeiro, em março, os mundiais Júnior e Sênior, o Sul-Americano e o Brasileiro.

“Vamos ver se na Copa consigo pegar uma final, já no Mundial Júnior, o meu objetivo é ficar no TOP 15. Se eu conseguir ir ao Norceca, tentarei pontuar ao máximo, visando o ranking mundial”, projeta.

E quando vem a cabeça Rio 2016, o pentatleta é só animação. Depois de Londres 2012, muitos atletas começam a preparação para um novo ciclo olímpico e com William Muinhos não é diferente.

“O objetivo é começar o ciclo para 2016 o quanto antes, pois quero muito participar das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Acredito que poder rodar os circuitos mundiais será uma boa para adquirir mais e mais experiência até os Jogos”, espera o pentatleta.


Últimas Notícias

Fique por dentro de tudo que acontece no Pentatlo Moderno Brasileiro