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Samantha Harvey: Para sempre pentatleta brasileira

17/01/2012 15h11
CBPM


História de vida da norte-americana Samantha Harvey se confunde com a do Pentatlo Moderno brasileiro

Ela nasceu em Nova Iorque, chegou a morar no Havaí, estudou na Inglaterra, mas foi competindo pelo Brasil que Samantha Harvey deixou seu nome na memória do esporte mundial. A história da pentatleta se confunde com a do Pentatlo Moderno no país. Enquanto a norte-americana naturalizada brasileira começava a representar a camisa verde e amarela mundo afora, a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno (CBPM) dava seus primeiros passos.

Com a CBPM completando 10 anos de existência, Samantha se junta ao time de pioneiros da modalidade no país, que tem, dentre outros, o também pentatleta Daniel Santos, mais experiente em atividade, e o Coronel Heber, um dos fundadores da entidade.

Quando se casou com o técnico de Tiro Esportivo, Silvino Lyra, nascido na Paraíba, em outubro de 1999, passou a reunir as condições fundamentais para pleitear a cidadania brasileira, a exatamente um ano antes da fundação da CBPM. A decisão de competir pelo Brasil veio logo depois.

“Eu competia pelos Estados Unidos há oito anos e quase consegui me classificar para os Jogos de Sidney por lá. Já no ano olímpico, corremos para que eu conseguisse representar o Brasil a partir do Mundial Sênior da Itália, a três meses das Olimpíadas”, conta Samantha.

A mudança foi feita na reunião técnica do torneio, um dia antes de sua realização, já na cidade italiana de Pesaro. Com a ajuda de nomes do esporte nacional, inclusive com o apoio da diretoria do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a União Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM) deu a autorização para que a pentatleta passasse a representar o Brasil. A notícia chegou até ela às 23h da véspera da disputa.

“Estava hospedada em um pequeno local da cidade, correndo na praia, nadando no mar e atirando a seco no hotel, já que não podia treinar oficialmente. No dia seguinte, ao lado dos pentatletas Nilton Rolim e Wagner Romão vivi uma das melhores competições de minha carreira em termos de me sentir parte de um time. Sou imensamente grata ao Coronel Heber, ao Daniel, ao Nuzman, ao Peri (José Roberto Perillier, atual gerente de Alto Rendimento do COB), ao Jefferson (Jefferson Hernandes, presidente da Federação do RJ quando a CBPM foi fundada), ao Eduardo Montella (ex-pentatleta) e a todos os outros que se empenharam e lutaram pela minha mudança”, agradece.

Belo início

O esporte entrou na vida de Samantha quando ela tinha apenas sete anos de idade, em 1979. Morando com os pais no Havaí, aprendeu a nadar e teve suas primeiras lições de equitação. Cinco anos depois, incluiu o atletismo em sua vida, se especializando nos 800 metros com barreira.

Quando estudava Literatura e Religião na Universidade de Harvard, teve contato com o ciclismo e o esqui. Foi lá também que começou a dar suas primeiras investidas no Pentatlo Moderno. “Era 1990 e treinava em minhas férias de verão”, lembra.

O aperfeiçoamento na modalidade veio quando se mudou para a Inglaterra para fazer seu doutorado e PHD. Entrou para o time da instituição, participando de diversos torneios entre universidades. Esteve em várias disputas do circuito europeu, o principal da categoria.

Interrompeu os estudos na Europa e voltou para os Estados Unidos em 1998, quando o país reiniciou seu programa de treinamento feminino de Pentatlo Moderno. Era uma preparação para a estreia das mulheres em uma Olimpíada, que aconteceria em Sidney, dois anos depois.

“Eu cheguei para treinar no Centro Olímpico de Colorado Springs, já que queria o melhor lugar possível para minha preparação. A Federação Americana não gostou muito, pois queria que eu ficasse no Texas, onde a estrutura não se comparava”, revela.

Samantha começou a competir pelo Brasil no mesmo ano de fundação da CBPM e apesar de não participar ativamente do movimento, viu de perto nascer a entidade máxima do Pentatlo Moderno no Brasil.

“Quando comecei, o Pentatlo estava integrado a uma confederação que reunia uma série de esportes pequenos. Mas posso dizer que a modalidade era o Heber e sua equipe. A visão dele de expandi-la como a única forma de se atingir altos níveis internacionais foi o principal combustível para a criação da CBPM. A partir daí, nós todos trabalhamos em conjunto para a concretização deste sonho”, declara.

Competindo pelo Brasil, Samantha começou a obter uma série de conquistas inéditas para sua carreira e para o país. Foi medalha de bronze no Campeonato Norceca (Américas do Norte e Central) de 2002, disputado no México. No mesmo ano, no Pan-Americano da categoria, no Rio de Janeiro, ficou com a prata.

Uma das grandes vitórias em sua carreira viria nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003. Na República Dominicana, a pentatleta teve uma dupla premiação. Conquistou a medalha de prata e, como foi a melhor sul-americana na competição, garantiu vaga nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Ali, Samantha se tornava a primeira pentatleta brasileira a conquistar uma medalha no Pan.

“Foi tão lindo no pódio. Lembro de estar envolta da bandeira brasileira e sendo abraçada por todos do time brasileiro e de outros países, sem falar na bandeira da Paraíba, que também estava ali. No céu, um lindo arco-íris deixava aquele momento ainda mais belo. Não acreditava que depois de 12 anos eu iria finalmente realizar meu sonho olímpico, após tantas barreiras e dificuldades”, se emociona.

Com a ida para os Jogos de Atenas, ao lado de Daniel Santos, Samantha derrubava um jejum brasileiro na competição. O país estava fora de uma Olimpíada há 40 anos, sendo representado pela última vez em Tóquio 1964, pelo pentatleta José Pereira

“Eu me senti com muita sorte e honrada ao mesmo tempo. Sorte por estar no local onde os Jogos da Era Moderna foram fundados em 1896 e extremamente lisonjeada em trazer o Pentatlo Moderno brasileiro de volta à arena olímpica depois de tantos anos”, diz.

Na Grécia, Samantha ficou com o 25º lugar e levou do país europeu muito mais do que a participação em uma olimpíada. Inspirou-se na cidade Delphi para nomear sua filha, que nasceria um ano depois e que hoje está com seis anos de idade.

Também vem do país criador dos Jogos Olímpicos os momentos que se tornaram inesquecíveis em sua carreira esportiva. A pentatleta não se esquece dos momentos em que esteve na Vila Olímpica e da Cerimônia de Encerramento do torneio.

“Foi legal ver todos os atletas negociando os pinos comemorativos e os uniformes como uma grande e unida família. Cheguei a conhecer um atleta da Costa do Marfim, que tinha só dois representantes em todo o torneio, que me disse como era bonito o seu país. O encerramento foi imponente e festivo, com um indescritível sentimento de alegria, união e descontração. Me senti em um mundo diferente”, recorda.

Um novo começo

Depois de sentir toda emoção que uma Olimpíada pode proporcionar a um atleta ao participar de Atenas 2004, Samantha viveu uma outra alegria em sua vida. Nem melhor ou pior, apenas diferente. Em 2005, nascia sua primogênita, Delphi.

A vida de mãe-atleta lhe exigiu cuidados a mais em relação à sua tradicional rotina. A prova de hipismo se apresentava como a grande vilã, já que é onde acontecem os acidentes mais sérios na modalidade. E foi exatamente ela que deu o sinal de alerta a pentatleta.

“Estava na Cidade do México para o Norceca de 2006 com minha filha de apenas seis meses. Chovia como um dilúvio, com raios e trovões para todos os lados no aquecimento para o hipismo. Naquele momento eu decidi que não podia mais correr riscos, pois tinha um bebê para criar”, conta.

A despedida foi feita ali na mesma competição e aconteceu em grande estilo. O time brasileiro, formado por Samantha, Yane Marques e Danielle Carvalho ficou com a medalha de ouro na disputa por equipes.

A partir daí, Harvey estava pronta para realizar seu outro sonho. O de se tornar professora universitária. Hoje, leciona Literatura Inglesa no Século XIX na Boise State University, no estado norte-americano de Idaho. O desejo de ser mãe também lhe trouxe Leopoldo, hoje com quatro anos de idade. Seriam dois jovens pentatletas a caminho?

“Ambos nadam e já montam cavalo para sentir como é, brincam de esgrima com espadas de plástico, atiram com pistolas que lançam borrachinhas e adoram correr. Mas não queremos que pratiquem qualquer esporte com seriedade até crescerem mais um pouco”, prefere.

Se os filhos começam a dar suas investidas, Samantha não deixa de lado o esporte, nem que seja para manter os hábitos saudáveis em sua vida. A ex-atleta continua nadando e correndo e está em busca de um local para montar a cavalo e praticar a esgrima como lazer.

Como pentatleta que sempre será, desta vez não precisa encarar a luta com a espada, a natação, o hipismo e muito menos o tiro e a corrida. A batalha agora é para encarar a jornada de mãe, esposa e profissional. Mas nada que uma superatleta não encare.

“É um desafio, mas por sorte sou professora e tenho uma maior flexibilidade do que outra profissão. Além disso, eu e o Silvino continuamos a ser um time em todos os níveis. Nós nos ajudamos em todas as atividades caseiras e familiares. E o mais importante: se você faz o que ama, nunca terá que trabalhar na vida”, defende.

Mesmo distante do Pentatlo Moderno diariamente, Samantha está por dentro de tudo o que acontece na modalidade no mundo e, principalmente, no Brasil. Apesar de não ter visitado o país recentemente, alimenta o desejo de trazer seus filhos para conhecer suas raízes ao sul do continente.

Dos elogios que faz sobre o desenvolvimento da modalidade no Brasil, faz questão de ressaltar o desempenho de Yane Marques, principal pentatleta no momento e com quem Samantha competiu por alguns anos. A norte-americana é só elogios para a pernambucana.

“Estou maravilhada com os resultados de Yane e pelo crescimento e desenvolvimento dos jovens e em geral do esporte no Brasil. A pernambucana é uma pentatleta nata e tem sido muito excitante ver seu incrível progresso na arena internacional. A CBPM oferece excelentes técnicos e recursos não só a ela, mas para o resto do time e os resultados deste investimento são mais do que evidentes”, relata.

Como quem acompanha de longe, Samantha mostra que está bem por dentro dos caminhos do Pentatlo Moderno brasileiro apontando os nomes de Larissa Lellys e Priscila Oliveira como atletas que despontam cada vez mais no cenário nacional e internacional da modalidade.

“Fico muito orgulhosa em ver o Michael Cunningham coordenando a delegação de Pernambuco em Recife e vendo vários jovens despontando no Pentatlo Moderno”, admira.

E é para os jovens que Samantha faz questão de se dirigir, reforçando que o Pentatlo Moderno estimula e desenvolve a mente, o corpo e o espírito em um teste máximo de equilíbrios entre força, resistência, técnica e estratégia mental. Para a pentatleta, são necessários muitos anos para se atingir altos níveis técnicos e faz-se necessário ter muita paciência e determinação.

“É muito importante não se distrair pelos altos e baixos de competir e qualificar. É um longo processo que tem que ser reconhecido e aceito por cada atleta. Durante estes anos de experiência, continuo usando o que aprendi e amadureci neste esporte e aplico na minha vida diária profissional e pessoal. Continuem praticando e se dedicando ao esporte e sejam o mais profissional possível, pois só desta maneira se pode crescer em qualquer esporte”, destaca.


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